sexta-feira, 4 de março de 2011


Reforma Protestante


Na manhã do dia 31 de outubro de 1517 AD., Martinho Lutero, monge agostiniano e professor de teologia da Universidade de Wittemberg, Alemanha, fixou, na porta da Igreja do castelo de Wittemberg, 95 teses ou declarações, lançando assim as bases para a Reforma Religiosa do século XVI. Portanto, estamos completando, no dia 31 de outubro deste ano, 493 anos de Reforma Protestante.
Segundo Cairns (1984, p.240), a Reforma pode ser conceituada como: “Um movimento de reforma religiosa [na Igreja Católica romana] objetivando voltar à pureza original do Cristianismo do Novo Testamento e resultando na formação de Igrejas nacionais, entre 1517 a 1563.”
Apesar da contribuição de fatores intelectuais, morais, sociais, políticos e econômicos para o advento da Reforma, o mais importante e decisivo desses fatores foi o teológico. A Igreja Católica Romana, desde a época do imperador Constantino, 323 AD., já vinha acumulando uma série de desvios teológicos, em relação ao ensino das Sagradas Escrituras, e no início do século XVI, a Igreja havia chegado a ponto de vender indulgências ou “passagens para o céu.” As indulgências eram documentos que as pessoas adquiriam por uma importância em dinheiro e que, segundo a Igreja Católica Romana, livrava aqueles que as comprassem das penas do pecado. As indulgências tinham sido declaradas como dogma, em 1343 AD., pelo papa Clemente VI, e depois estendidas também às almas, no purgatório, em 1476 AD., pelo papa Sixto IV. João Tetzel, um dominicano, encarregado pelo papa Leão X de vender indulgências na Alemanha, dizia que: “A indulgência que eles [ele e sua comitiva] vendiam deixava o pecador ‘mais limpo do que saíra do batismo’, ou ‘mais limpo do que Adão antes de cair’, que ‘a cruz do vendedor de indulgência tinha tanto poder como a cruz de Cristo’, e que no caso de alguém comprar uma indulgência para um parente já morto, ‘tão pronto a moeda caísse no cofre, a alma saía do purgatório.”(GONZALES, 1983, p.53).
Foi contra estes e outros desvios doutrinários que Lutero fixou as suas 95 teses, na porta da Igreja de Wittemberg, analisando-os à luz das Sagradas Escrituras. O interesse de Lutero era que a Igreja reconhecesse os seus erros, se arrependesse e voltasse a ser uma igreja conforme os padrões da Bíblia. Mas a resposta da Igreja veio através de bulas papais, excomunhão, inquisição e ameaças de morte. Lutero, então, logo percebeu que só lhe restavam duas opções: retratar-se de seus ensinos, ministrados à luz das Sagradas Escrituras, ou suplicar a ajuda de Deus e prosseguir em frente; sendo esta a sua decisão, assumida na dieta de Worms (Alemanha), em 1521 AD., dizendo em alemão: “É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus, e não é seguro nem honesto agir-se contra a consciência de alguém. Assim, Deus me ajude. Amém.” (NICHOLS, 1985, p. 151).
Lutero, de fato, precisava suplicar a ajuda de Deus, pois muitos de seus antecessores já haviam sido mortos por ordem dos tribunais da inquisição, como por exemplo, João Huss (1373-1415), queimado vivo por decisão do Concílio de Constança, em 1415 AD. E Deus o ajudou pelos caminhos da providência, preservando-lhe a vida e dando-lhe condições de continuar o seu trabalho. Lutero traduziu a Bíblia para a língua alemã, possibilitando ao povo, por si mesmo, ler a Palavra de Deus e conhecer a verdade.
Assim, a Reforma ganhou força consolidando-se na Alemanha. Na Suíça, a Reforma teve a contribuição de Zuínglio (1484-1531) e depois de João Calvino (1509-1564), que sistematizou o pensamento teológico reformado expondo-o com a publicação, em 1533 AD., da obra: As Institutas da Religião Cristã.  A teologia calvinista impulsionou a Reforma na Escócia, com João Knox (1515-1570), na Holanda, Inglaterra e França.

Os princípios básicos da Reforma são:

1º - A SUPREMACIA DA BÍBLIA SOBRE A TRADIÇÃO ou Sola Scriptura. Somente a Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é a única regra de fé e de prática. A tradição por melhor que seja, tem apenas valor histórico. 2 Timóteo 3.15-17; Gálatas 1.8-9;

2º - A SUPREMACIA DA FÉ SOBRE AS OBRAS ou Sola Fide. O homem é salvo pela fé no sacrifício vicário de Cristo sem a cooperação de obra alguma. As obras testificam a fé, mas não ajudam o homem na sua salvação. Efésios 2.8-9; Romanos 1.16-17; 5.1; Gálatas 2.16.

3º - SALVAÇÃO PELA GRAÇA ou Sola Gratia. A salvação é um ato exclusivamente da graça, do favor imerecido de Deus, para com os homens. É Deus quem chama, salva e aplica no coração dos homens a sua graciosa salvação. Efésios 2.8-9; Romanos 8.28-30.

4º - A SUFICIÊNCIA DO SANGUE DE CRISTO ou Solo Christi. O sacrifício de Cristo é suficiente e eficiente para a salvação do homem. Não há necessidade de mais nada: obras, ritos ou cerimônias. João 1.29; 3.14-16; 5.24; Hebreus 9.10-12;

5º - A SOBERANIA DE DEUS ou Sole Deo Glorie. Deus é o soberano Senhor e tudo está debaixo da sua soberania. Romanos 11.33-36.

Concluindo, a Reforma é um marco na história do Cristianismo e um divisor de águas. Redescobriu o princípio da supremacia do povo sobre o sacerdote ou Sacerdócio Universal dos Crentes. Em Cristo, todos nós somos sacerdotes servindo uns aos outros. 1 Pedro 2.9. Ela surgiu e venceu os obstáculos de sua época, porque homens e mulheres se consagraram à obra do Senhor, e ele, como o único Senhor da Igreja e da História, soberanamente dirigiu todos os fatos.
A influência da Reforma não ficou restrita apenas ao campo da religião, mas alcançou também a vida social, cultural e política dos povos, contribuindo para a formação de um mundo mais comprometido com a Palavra de Deus, com os direitos humanos, com a liberdade e o progresso. A Deus toda a glória!

Rev. Gilson Altino da Fonseca
Professor de História da Igreja Cristã no Instituto Bíblico Eduardo Lane, em Patrocínio, MG.

Referências:

CAIRNS, E. E. O Cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 1984.
GONZALES, J.L. Uma história ilustrada do Cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1983. v.I-V
HULBUT, J.L. História da Igreja Cristã. Miami: Vida, 1998.
NICHOLS, R. H. História da Igreja Cristã. 6. ed., São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985.

SMITH, William S. Do Pentecostes até o Renascimento. 3. ed. Patrocínio: Ceibel, 1984.

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