terça-feira, 3 de maio de 2011

Referendo do Dia 23 de Outubro. Votei "NÃO"

Solano Portela

Muitos evangélicos votaram "sim" no referendo do desarmamento. Considero esta posição equivocada, principalmente quando proclamada como procedente das Escrituras e como a única alternativa aplicável aos cristãos. Antes do dia 23 de outubro, expressei minha opinião em alguns e-mails, que cito aqui.
Só para citar um único texto (são vários, que poderíamos explorar), Lucas 22.36-37 deixa claro a validade de legítima defesa pela utilização de uma arma. Cristo dá uma exortação de preparo para a continuada jornada na vida que os discípulos haveriam de empreender após a sucessão dos fatos que ocorreriam com Jesus.

Nesse sentido ele indica que deve haver preocupação com provisões e com meios de auto-defesa. O versículo seguinte (37) expressa, de forma explícita, que tais recomendações não diziam respeito aos incidentes que haveriam de acontecer com a prisão de Jesus. Ou seja: não deveria haver resistência armada à prisão e contra os soldados, pois nEle importava que se cumprisse o que já estava predeterminado, conforme Is 53.12 e tantos outros versos que falam da morte do Messias entre malfeitores - uma necessidade à nossa redenção. Mas aos discípulos, não lhes foi tirado o direito de auto-defesa, como agora o estado autoritário e messiânica humanista quer fazer (contando com isso com o coro subserviente de muitos evangélicos).

Estes versos de Lucas ensinam:
1. Que é apropriado às pessoas se prepararem adequadamente às suas necessidades. Ou seja, por mais que saibamos que Deus é Soberano, não é correto tentarmos a Deus colocando a nós próprios desnecessariamente sob a sua providência milagrosa.
2. Que a auto-defesa é recurso legítimo tanto quanto o alimentar e o vestir, principalmente em situações e regiões onde impera o desgoverno e as autoridades não cumprem essa finalidade essencial de suas responsabilidades perante Deus. O texto não ensina a legitimidade de armar-se para atacar ou agredir - nem a indivíduos, nem a nações.

A regra é submissão ao estado. Auto-defesa armada é exceção, mas é exceção legitimada, quando o estado está ausente e não cumpre suas responsabilidades perante o doador da autoridade que recebem - Deus.

Não carrego armas e nem peixeira, mas minha compreensão é a expressa na Confissão de Fé de Westminster (Catecismo Maior), que transcrevo, abaixo (ênfases em maiúsculas):
Pergunta 134. Qual é o sexto mandamento?
R: O sexto mandamento é: "não matarás."

Pergunta 135. Quais são os deveres exigidos no sexto mandamento?
R: Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos, subjugando todas as paixões e evitando todas as ocasiões, tentações e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém por meio de justa defesa dela contra a violência; por paciência em suportar a mão de Deus; sossego mental, alegria de espírito e uso sóbrio da comida, bebida, remédios, sono, trabalho e recreios; por pensamentos caridosos, amor, compaixão, mansidão, benignidade, bondade, comportamento e palavras pacíficos, brandos e corteses, a longanimidade e prontidão para se reconciliar, suportando pacientemente e perdoando as injúrias, dando bem por mal, CONFORTANDO E SOCORRENDO OS AFLITOS, E PROTEGENDO OS INOCENTES.

Pergunta 136. Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?
R: Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, EXCETO NO CASO justiça pública, guerra legítima, ou DEFESA NECESSÁRIA; A NEGLIGÊNCIA OU RETIRADA DOS MEIOS LÍCITOS OU NECESSÁRIOS PARA A PRESERVAÇÃO DA VIDA; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras, a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém.
Sob esse entendimento, e verificando que o programa governamental e dos humanistas inconseqüentes de desarmamento da população NÃO retirará a arma da mão do meliante (esses pouco se importam com as leis - pois são, por atividade precípua, contraventores), o desarmamento contribui EXATAMENTE CONTRA a preservação da vida e leva os demais cidadãos a ficarem incapacitados de SOCORREREM OS AFLITOS E PROTEGEREM OS INOCENTES. A aprovação do pseudo "desarmamento" levará, portanto, o governo a ir CONTRA o que a interpretação da Confissão de Fé preconiza.

Agora, se o "desarmamento" vier a ser aprovado, não terei arma em minha residência. Interpretarei como uma medida, da parte de Deus, de que devo - nessa questão, por imposição da autoridade constituída, estar única e exclusivamente confiante na proteção divina, sem meios humanos próximos.

Eu poderia ir contra o governo e esconder a minha arma, mas se eu vier a fazer isso é porque eu estou baseando a minha desobediência ao governo em uma CONJETURA de que poderei (ou meus familiares) ser atacado e que eu tenha que me defender. Eu não acredito que o crente deva viver por CONJETURAS, mas sim por princípios, e o princípio a ser obedecido será o de submissão à autoridade. Tenho consciência que existe uma ocasião em que é NECESSÁRIO obedecer a Deus, e não aos homens, mas isso se dá APENAS quando a determinação governamental vem explícita e diretamente CONTRA uma obrigação que eu tenha para com o meu Deus (como, por exemplo, deixar de proclamar o evangelho). Ter uma arma em casa não se enquadra, no meu entendimento, numa obrigação para com o meu Deus, mas em um direito e privilégio que ele pode me conceder, sob certas circunstâncias.

Continuarei achando, caso venha a aprovação, que a política governamental é equivocada, mas o apóstolo Pedro manda que obedeçamos não somente às autoridades justas, mas também às injustas. (1 Pe 2.18). Só para cristalizar um pouco mais este pensamento, se houver um plebiscito e o governo, em função dele, vier a determinar que temos que aceitar homossexuais como membros das igrejas, deveríamos desobedecer civilmente, mesmo correndo o risco de termos nossas igrejas perseguidas e fechadas - mas esse não é o caso com as armas.

Resumindo, mesmo não andando armado, vou votar contra o suposto "desarmamento" dos cidadãos de bem, uma vez que os criminosos continuarão armados. Espero que não cheguemos a implantar mais essa situação de desestabilidade e insegurança em nosso país, já tão marcado pela violência das pessoas sem lei.

Artigo extraído do site do Rev. Solano Portela, disponível em http://www.solanoportela.net/artigos/referendo.htm

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