quinta-feira, 2 de agosto de 2012

MUNDO EM FILIGRANAS

Por Jorge Fernandes Isah

Tenho que uma das coisas na qual os crentes mais negligenciam é a afirmação de Paulo: "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Rm 8.7). Em outras palavras, Paulo está dizendo o que Tiago diz: "Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4.4).


Em nome da intelectualidade, tolerância, do politicamente correto, indolência, comodismo, pieguice, e de tantas outras desculpas esfarrapadas, a igreja tem mantido, infelizmente, uma íntima relação com o mundo. O que vale dizer que as trevas ocuparam o lugar que deveria ser da luz, sucumbindo à escuridão completa, na ilusão de que estão a favorecer ou colaborar com a luz. O mundanismo na igreja é como uma peste, um flagelo, uma maldição que se propaga como um vírus letal, o qual consumirá e afasta-la-á do seu propósito: a grande comissão, a obra de proclamação do Evangelho, e a consequente salvação de almas.


Muitos vão taxar-me de fundamentalista (no sentido de reacionário, retrógado, extremista, medieval), mas a própria palavra de Deus afirma que os crentes devem se considerar em constante guerra com o mundo, não se conformarem com ele (Rm 12.2), nem o amarem, pois ao que ama o mundo, o amor do Pai não está nele (1Jo 2.2). Logo, se você quer agradar a Deus sendo obediente aos seus mandamentos, terá de ser reacionário, inflexível, ortodoxo e extremista em defender e viver a Escritura, opondo-se ao pecado. Ou não somos de Deus? Ou não sabemos que o mundo está no maligno? (1Jo 5.10). Não há de se ser condescendente, nem manter-se em uma relação amigável, nem compartilhar qualquer tipo de interesses com aqueles que estão no mundo, os quais são filhos de satanás, e esforçam-se em compartilhar e promover os ideais, princípios e conceitos anti-evangelho de Cristo, que os levarão à morte definitiva, e a quem pactuar com eles. Ouça o que o Senhor nos diz: "Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo" (Jo 17.14), pois "Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia" (Jo 15.19); "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim" (Jo 15.18). O que lhe parece? É possível se enganar? A sentença de Cristo deixa dúvida? Ou será que negligenciamos a Sua advertência fazendo-nos aliados do inimigo, julgando-nos amigos de Deus? "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro" (Mt 6.24). A maior tolice que o crente pode cometer é acreditar que o mundo será sincero, pacífico e justo; antes ele é igual ao seu mentor, o qual "foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44), e "não vem senão a roubar, a matar, e a destruir" (Jo 10.10). Cuidado! Por certo é o que ele deseja ardentemente, e, insistente, não se furtará a usar de todos os meios para lançar-nos em definitivo no abismo.
 
E tudo o que estiver em disposição de resistir a qualquer dos preceitos bíblicos, os quais Deus decretou como o padrão de vida cristã, representará inimizade para com Ele, ainda que aparente insignificância, e faça-se inofensivo. Você ouve piadas imorais e ri? Não se importa em ser desleal? Nem de falar mal do colega de trabalho ou escola? Já olhou para alguém e sentiu-se superior a ele? Ou desprezou-o por não acompanhar o seu raciocínio?... Não estou a falar de prostituição, adultério, furto, vícios, assassinato, e coisas do gênero, mas dos valores cristãos mais elementares que são desprezados e combatidos diariamente, e pelos quais você não se importa. Falo dos filigranas, dos mais tênues desejos que dividimos com o mundo: orgulho, inveja, vaidade, cobiça, trapaças (que se acalentam de uma forma tão intensa e muitas vezes passam despercebidas), e mais, da sua ordem pedagógica de nos sujeitar ao fim por ele pretendido. O salmista nos adverte: "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite" (Sl 1.1-2) . O que isso quer dizer? Que o crente não deve:

1) Ouvir o conselho do ímpio.
2) Deter-se em seu caminho, antes afastar-se dele. Se não for possível, deixá-lo passar a galope.

3) Assentar na roda dos escarnecedores, e assim, se fazer e agir como um zombeteiro. O alerta é evidente: manter a distância máxima de tudo o que se refere ao mundo, no sentido daquilo que o mundo tem, produz e doutrina como elementos que o levarão ao pecado e a desobediência. Porém, o crente deve ter prazer na Lei do Senhor, e nela meditar dia e noite, incessantemente. Este é o antídoto para não comungar com o mundo: o temor e reverência a Deus, o deleite e a alegria em se sujeitar à Sua vontade expressa claramente na Lei.

Para muitos é possível ser um crente sem amar a Lei de Deus; e, ultimamente, a igreja tem sido vítima (há casos em que é fomentadora) da idéia de que é possível servir a Cristo odiando a Lei. Mas como o Senhor pode concordar que alguém se intitule Seu filho se odeia e despreza aquilo que criou? É coerente? Não. E demonstra o quão pouco razoável e entendido é quem assim pensa e age à revelia da revelação divina, a qual nos diz que a Lei é espiritual (Rm 7.14), santa, justa e boa (Rm 7.12); o que não significa que seremos capazes de cumpri-la. Cristo fez isso por nós, para nos salvar (Gl 3.13). E a prova de que sou salvo é o amor à Lei (Sl 119.163), e desejar no íntimo cumpri-la, ainda que não o faça completamente. A minha alegria é obedecer a palavra de Deus, e a minha tristeza é não ser capaz de realizá-la, por isso a necessidade de arrepender-me e clamar o perdão divino.

Aparte:[Em Romanos 7, Paulo faz um verdadeiro tratado do domínio da lei sobre o homem. Ele fala de duas leis: a Lei santa e justa que revela o pecado, e pela qual Cristo morreu, e com Ele também morremos para o pecado; e a lei do pecado que "habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem... Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim" (Rm 7.17-18, 20). Ou seja, a Lei que revelou-me o pecado, pelo qual seria condenado, foi pregado na cruz do Calvário por Cristo, que cumpriu-a na carne por mim; o que me tornou livre da condenação da Lei, liberto do seu jugo. Contudo, deve-se anelar o desejo de observa-la, em sujeição à vontade de Deus, como Seu filho, o qual tem de ser santo como é santo o Pai celestial (Lv 20.26).

Por outro lado, o apóstolo aponta a incapacidade de se livrar completamente da lei do pecado, a qual serve-se da nossa carne. É o remanescente da nossa natureza corrupta em conflito com o Espírito que habita em nós, opondo-se um ao outro (Gl 5.17). Desta forma, se não reconheço o meu pecado, como me aceitarei pecador? E como buscarei em Deus a santidade e o perdão? Porém, alguns enganam-se a si mesmos dizendo que não têm pecado (1Jo 1.8), ou desprezam-no como algo irrelevante e, assim, poderiam achar que "tanto faz"; com o seguinte argumento: já que não se está livre do pecado, porque não pecar? Esse é um pensamento ímpio e que nada tem a ver com o legítimo propósito de Deus para os Seus filhos. Mesmo que não realizemos toda a Lei, devemos amá-la e desejar sinceramente obedecê-la, como a expressão da vontade divina aos eleitos] .

Claro que há posições divergentes. Muitos crêem que os cristãos poderão se apropriar daquilo que de bom a cultura, a ciência, a educação seculares podem nos oferecer. Creio ser isso evidente, pois somos beneficiados pela tecnologia, pela medicina, pelos avanços em todas as áreas do conhecimento humano, os quais acontecem apenas e somente pela graça e vontade de Deus. Não vejo o porquê de se rejeitar aquilo que o mundo realiza de bom, e que são dádivas do Criador para os homens (para todos os homens, porque Ele usará ímpios para abençoar os santos e vice-versa). Contudo, há de se ter uma separação do crente com as práticas que afrontam a Deus. Ambientes, programações e interesses que infringem a Lei Moral devem ser abominados e repelidos prontamente (bares, danceterias, e a maioria dos programas de tv, por exemplo).

Infelizmente, muitos cristãos têm se deixado seduzir pelos apelos do mundo e andando segundo o seu curso, segundo o espírito que opera a desobediência nos homens (Ef. 2.2); e, progressivamente têm permitido que o pecado entre em suas vidas e as consuma. O que acaba por transformar muitas igrejas em "parques de diversão" do diabo, onde ele se diverte zombando dos que o consideram inofensivo, dos incautos e estultos que são ludibriados pela perversão que há em seus corações, pela soberba dos seus ceticismos, ou das suas crendices.
Ao considerarem algumas práticas malignas como ingênuas, como fruto da "evolução cultural da humanidade", não se apercebem de que são dominados e tragados pela astúcia do prazer ilícito, pelo desejo obsceno, pela imoralidade e, anestesiados, têm suas mentes e corações cauterizados pelo pecado (a mente que deveria ser de Cristo, ainda continua sendo a mente governada pelo pecado, irregenerada), desprezam a Deus, ainda que tentem se convencer de que O servem, quando são escravos de si mesmos e do maligno.

A Bíblia alerta-nos a não descuidar com o pecado, o qual é sutil e malévolo, e quer sempre nos ver rebelar, nos ver insurgir contra Deus, o que, no final, será a nossa destruição.

E é assim que o mundo quer, que os filigranas sejam tecidos ao nosso redor e nos aprisionem, e, enfim, não restará mais nada além dos grilhões, e o Inferno.

Fonte: Kálamo
 

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